domingo, 15 de julho de 2012

Feira de Mataderos


Esta feira não é muito visitada por turistas, este é o lado bom na minha opinião, pois todos os dias que estivemos na capital argentina estivemos cercados por um número impressionante de turistas de todos os lados do mundo, mas principalmente brasileiros, e preferimos estar cercados pelos nativos do local e poder observar e partilhar de seus hábitos e modo de vida.

Para chegar até lá existe umas dez linhas do transporte coletivo local ao custo de 1,25 pesos. Estávamos nas cercanias da 9 de Julio com calle Moreno, por isto optamos pela línea 103, que passava por ali. Não demorou 5 minutos e o ônibus chegou, felizmente, pois estava muito frio.

Rodamos cerca de 40 a 50 minutos pelos bairros periféricos de Buenos Aires, cruzamos por lugares bem  bonitos, outros bem pobres e um deles chegava a parecer com uma favela. É bem verdade que passamos do lugar  que deveríamos descer por um problema de comunicação entre eu e o Edu com uma passageira do ônibus (ela indicou o lugar certo, mas ele entendeu errado).

Fiquei entristecida com o abandono do Parque em homenagem a Atahualpa Yupanqui, com alguns cactos aqui e ali, cercados de lixo e móveis velhos. Um artista da sensibilidade e relevância para a cultura latinoamericana merecia o mesmo cuidado que se vê nos monumentos dedicados aos generais que fizeram parte da história da Argentina.

Com nosso engano acabamos conhecendo o aeroporto internacional de Ezeiza, cerca de 34 Km do centro da cidade, e descobrimos que nossa opção pelo aeroparque Jorge Newberry foi acertada.

Durante o percurso de ônibus vários ginetes passavam a cavalo indo em direção da feira, se pareciam muito com os gaúchos do Rio Grande do Sul, na vestimenta, indumentária e no trato com os cavalos.

Chegamos. Bajamos em uma avenida larga, logo após um conjunto de edifícios brancos, tipo conjuntos habitacionais populares, de longe se pode ver a fumaça e a aglomeração de pessoas indicando que estamos no caminho certo.

A feira de Mataderos acontece na Avenida Corralles, no entorno do antigo Mercado Nacional de Hacienda, construído em 1890, que hoje abriga, entre outros, o Museo de Arte Criolla.

Em frente ao prédio é erguido um palco ao ar livre, onde se revezam atrações folclóricas todo o dia, as pessoas que assistem as atrações, sendo muitas delas vestidas com bombachas, lenços e chapéus tipicamente gaúchos, dançam e cantam as músicas no meio da rua, abrindo espaços entre os que circulam pelo lugar sem parar.

Os bares e restaurantes da volta, com suas mesas postas nas calçadas, vendem pratos típicos da culinária argentina, mas há quem prefira comer andando por entre as bancas de artesanato, degustando um saboroso choripan.

A maior parte dos estandes são de artesanto em couro, lã, peles, porém a maioria vende facas, aperos e apetrechos para gaúchos. Para quem gosta da cultura criolla como nós éo verdadeiro paraíso.

Mas ainda estávamos por descobrir o que havia de melhor no lugar, o que aconteceu ao acaso, não foi fruto de nenhuma pesquisa, talvez por isto nos encantamos.

A sede da Federación Gaucha de Buenos Aires é uma porta minúscula escondida no meio da confusão das mesas dos restaurantes da feira de Mataderos. Adentramos meio que por acaso atraídos pela música e nos deparamos com um lugar original, um prédio velho e mal conservado. As paredes brancas marcadas pelo tempo eram enfeitadas com a bandeira argentina, cartazes de rodeios e muitas fotos em preto e branco de ginetes em rodeios ou gaúchos em lidas campeiras.

As mesas eram feitas sobre cavaletes e nelas cabiam famílias inteiras que desfrutavam de seus almoços ao som de músicas folclóricas como chacareras, zambas, tangos e chamamés. Eventualmente alguns levantavam e tomavam conta do salão, dançavam e voltavam para suas mesas.

Nos sentamos para apreciar e tomar uma Quilmes gelada, já havíamos almoçado e não queríamos parecer turistas observando aquele lugar com um lugar exótico ou algo assim. 

Haviam músicos tocando bandeón, violão e um cantor entoava várias canções tradicionais, ora acompanhado pelo coro dos freqüentadores que cantavam vibrantes como se fossem hinos.

Depois de um tempo considerável voltamos para a rua, visitamos os estandes de vendas de artesanias, as ruas pareciam estar ainda mais cheias a medida que a tarde avançava. Já podíamos notar a presença de turistas, mas nenhum brasileiro até então além de nós, algo raro nestes dias.

Fizemos algumas comprinhas básicas para completar nossos apetrechos gaúchos, comemos doces “hechos com Dulce de Leche” maravilhosos e depois nos fomos conhecer o Museo de Arte Criolla.

O museu fica dentro do prédio do antigo mercado, a entrada é simbólica, custa apenas 2 pesos e reconta a história da cultura gaúcha platina, desde o modo de viver nas estâncias, do trabalho dos peões, os meios de transporte ( tem um exemplar de carreta imeeeeeeenso dentro do museo), as vestimentas, as expressões musicias, os instrumentos musiciais que caracterizam os ritmos platinos, a indumentária e os grandes artistas que se ocuparam de retratar tudo isto.

No pátio do museo ocorrem apresentações de dança, de música e também tem uma pulperia. Todos são convidados à assistir e a participar das apresentações, é um lugar mágico, pois é como fazer uma viagem no tempo.

Porém, achamos o lugar um tanto sujo e mal conservado, poderiam aumentar o valor do ingresso e investir numa boa melhora na estrutura e conservação não só do prédio, como de alguns objetos que estão sofrendo degradação pela ação do tempo e pela falta de adequação do lugar para abrigar um museo. Mas de qualquer forma vale muito a pena.

Depois da visita ao museu, passamos novamente pela feira e voltamos à Federación, pois haviam nos dito que haveria baile após às 17 :30 h. É cobrada uma entrada de 15 pesos para o baile e quem recebe na porta é o cantor, que mais cedo animava o almoço. Ele nos contou um pouco sobre a história do lugar e disse que gostaria muito de conhecer o Rio Grande do Sul, para fazer o mesmo que nós, ver as similitudes existentes entre nossas culturas.

As mesas não estavam abarrotadas como antes, mas haviam muitas famílias que permaneciam por ali. Outros freqüentadores chegavam apenas para o baile, que estava animado pela duplas de dançarinos que se revezavam na pista conforme mudava o ritmo, intercalados por zambas e chacareras as mais populares do lugar.

Ficamos bebendo e conversando com algumas pessoas, apesar da vontade não nos atrevemos tentar dançar. Perguntamos onde as pessoas aprendiam e praticavam e nos informaram que ali haviam aulas todas as semanas, além de outros lugares nas cercanias.

Quando tomamos a línea 126, para voltar para o centro, já era noite alta e embarcamos no ônibus num misto de desejo de ficar e necessidade de ir embora, mas este com certeza é um lugar que jamais esqueceremos e voltaremos certamente.

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